quarta-feira, 26 de outubro de 2011


Acho tão bonito casais que duram. Não importa o tempo, o que vale é a intensidade. Querer estar junto vale muito mais do que estar junto há 20 e tantos anos só por comodidade. Sei que estou falando obviedades, mas hoje vi um casal de velhinhos na rua. Acho que o amor, quando é amor, tem lá suas dores bonitas. A gente vê uma cena e o coração fica emocionado. Nos dias de hoje, com tanta tecnologia, com tanta correria, com tanta falta de tempo, com tanto olho no próprio umbigo e nos próprios problemas, com tanta disputa pelo poder, pelo dinheiro, por ter mais e mais, sei lá, acho bonito ver um casal de velhinhos na rua. A mão, enrugadinha, segura a outra mão. A outra mão, por sua vez, segura uma bengala. Falta equilíbrio, sobra experiência. Falta a juventudade, sobra história para contar. Falta uma pele lisa, sobram marcas de expressão que contam segredos. Envelhecer não é feio. Em tempos de botox, a gente devia olhar um pouco para dentro. De si. Do outro. Do amor
Se tudo fosse perfeito, se as coisas fossem perfeitas, não existiria lições de vida, não haveria arrependimentos e nem descobertas. Se tudo fosse perfeito, mãos não se uniriam e sonhos não seriam valorizados. Se tudo fosse perfeito, olhares não se completariam e gestos passariam despercebidos. Se tudo fosse perfeito, as lágrimas não existiriam, as palavras seriam perfeitas. Se tudo fosse perfeito, eu pularia no abismo sem medo da morte, pois asas eu ganharia. Se tudo fosse perfeito, eu atravessaria o oceano sem medo de ser levado pelas ondas, sem receios de me perder em suas profundezas. Se tudo fosse perfeito, dores não existiriam e a cura não seria procurada. Nada é por acaso, pois nem o destino é perfeito !

Nós mulheres somos assim: loucas por sinais. Não falo em sinais de trânsito, nem em símbolos matemáticos. Na verdade, somos peritas em achar que sabemos decifrar o universo masculino. É. Descobrir o que existe por trás do que os homens dizem. De cada frase. Cada email. Cada telefonema. Cada recado no facebook. Para nós, o que os homens falam não significa apenas palavras ditas. Não. Procuramos o que fica no ar. O que mora nas entrelinhas. Afinal, somos mulheres, certo? E ganhamos a condição de sermos intuitivas, mesmo quando pegamos a pobre da intuição e a transformamos em refém. É, reféns. Para escondermos nosso pior lado. Aquela faceta que cada uma de nós esconde sutilmente na bolsa. Sinto dizer, mas existem horas em que estamos erradas. Equivocadas. Não é nossa intuição falando. É a insegurança. São traumas de outros relacionamentos. Carência. Ciúme. E outras particularidades do nosso lado negro – ou não tão claro - que insistimos em esconder. Quer um exemplo? Seu namorado te liga sexta-feira à noite com uma voz não muito animada. Não interessa se ele trabalhou demais, se está preocupado, se viajou a madrugada inteira. Dependendo do nosso humor e da época do mês, a gente logo pensa: aí tem! E começamos a procurar sinais que - às vezes – nem existem. Pode ser que estejamos certas, homens safados existem desde que o mundo é mundo. Mas a questão é: Onde está o limite entre a nossa intuição e a paranóia? Pensem bem. Se for intuição, ponto pra nós! Somos boas nisso, de verdade. Mas se for apenas imaginação ou devaneios da nossa mente fértil, vai chegar uma hora em que, de fofa e bem-resolvida, nos transformaremos em uma chata de galocha. É. Uma Chata. E não vai ser um piscar de olhos charmosos, nem a sua inteligência e bom humor que vão fazer o cara (é, o seu amor) parar de ter preguiça de você. Mentira minha? É, gente, não há nada mais broxante que ciúme excessivo. Um pouquinho ainda vai, é saudável e pode ser até charmoso. Mas quando a pessoa vira uma maníaca obsessiva, meu bem, não há amor que resista. Eu escrevi uma vez e isso serve para mim também, que a gente não pode confiar em ninguém se não confia em si mesmo. Se eu decorei? Bom, estou tentando (...) Carente que sou, me lembro todo dia, antes de começar a “imaginar coisas”. Nós nunca vamos ter controle sobre a vida do outro. Nós nunca vamos impedir que nosso namorado, marido ou ficante façam o que bem entendam, mesmo sob nossa vigilância cerrada. E verdade seja dita: pode ser que aí tenha coisa, sim. Mas se tiver, não é mais problema seu. Nem meu. Concordam? Já disse uma vez que nossas escolhas nos fazem. E a consequência dos nossos atos é o que nos define. Para o bem. Ou para o mal. Taí o Schwarzenegger, o Tiger Woods e o ex-marido da Sandra Bullock – aquele vacilão – que não me deixam mentir. (Fernanda Mello)